Orientação DGS 036/2020 - atualização de 31/03/2021


 

Ok, eu sei que este é mais um assunto que não está diretamente relacionado com o Sporting Clube de Portugal, mas é de interesse geral e impacta inúmeros os clubes a nível nacional, quer no feminino, quer no masculino, e em todos os escalões. 

Ora então vamos a isso.
A DGS publicou ontem, 31/03/2021, uma atualização à Orientação n.º 036/2020, que estabelece as regras para o regresso à atividade das mais diversas modalidades desportivas, procedendo ao seu enquadramento à situação pandémica que se vive atualmente no país. Num texto algo extenso e pouco explícito, a DGS indica que, e passo a citar, "Para a retoma das atividades desportivas é obrigatória a apresentação de um resultado negativo num teste laboratorial para SARS-CoV-2, realizado nos termos da Norma 019/2020 da DGS até 72 horas antes do inicio das atividades, por parte de todos os praticantes de escalões de formação de modalidades desportivas de médio e alto risco.". Primeira questão: Quem irá suportar os custos associados à testagem requerida para que seja possível ao atleta voltar à prática desportiva? Os clubes? Os pais? A Federação? O governo? Convém esclarecer, urgentemente, estas questões, dado que talvez 90% dos clubes nacionais não têm certamente condições financeiras para assumir tais custos, principalmente depois de ficarem impedidos de competir e de conseguir obter alguns apoios para a realização de jogos. Caso estas regras sejam transpostas para os escalões seniores, torna-se ainda mais incomportável. Dou o exemplo prático do clube de que faço parte, onde apenas existem escalões de formação, e a única equipa sénior é aquela em que me insiro, e que se encontra em vias de disputar o Campeonato Interdistrital de Futsal Feminino. Desde o término forçado da época 2019/2020, a única equipa que voltou a competir na época 2020/2021 foi a nossa, por ser sénior e por se encontrar a disputar o acesso à 2ª Divisão Nacional de Futsal Feminino. Além de limitações impostas pela nossa autarquia, que nos impediram de usufruir das instalações desportivas (pavilhão municipal), e que implicaram a nossa deslocação para um concelho diferente, que gentilmente nos disponibilizou o seu pavilhão, os valores recebidos pelo clube, ou seja, os apoios financeiros, encontram-se praticamente esgotados, e apenas foram utilizados para as inscrições das jogadoras, e para algumas deslocações. Somos uma equipa totalmente amadora, que não recebe qualquer tipo de ajuda financeira para poder jogar, com exceção do dinheiro que conseguimos angariar com algumas iniciativas desenvolvidas durante a época e que, dada a realidade atual, são muito difíceis de organizar. Ora se o nosso clube não consegue assegurar o pagamento de um valor que permita reduzir as despesas de deslocação das suas jogadoras seniores (14 jogadoras), como é que esperam que esse mesmo clube seja capaz de pagar testes laboratoriais à Covid-19, a TODOS os atletas dos escalões de formação, bem como, nos dias de competição, pagar testes rápidos de antigénio a 50% dos jogadores e equipa técnica, bem como de 50% dos árbitros e juízes presentes, que exerçam as suas funções sem máscara?! Ah, e nem vou mencionar o facto de, muito provavelmente, ser necessário assegurar a presença de um médico ou enfermeiro, nos dias de competição, para assegurar a realização dos referidos testes. 

A DGS transmite assim uma mensagem de "Ah e tal, nós apresentámos a solução, os clubes é que optaram por desistir das competições. Contra isso nada podemos fazer, são escolhas.". Ou seja, encostam os clubes à parede, exigindo investimentos incomportáveis, e deixam ao seu critério a continuidade nas competições de formação, ou a falência. Dão uma opção que não é viável para grande parte dos clubes a nível nacional, e ficam de consciência tranquila, pois caso as competições sejam canceladas, não podem ser culpados, pois apresentaram a solução e os clubes é que não aceitaram. O que sinto é que vai haver um número elevado de clubes a optar por uma de duas soluções: 
1) desistir das competições de formação e optar apenas pelo treino;
2) desistir das competições de formação e apenas regressar em 2021/2022.
Nem vou comentar os efeitos nefastos que qualquer uma destas opções acarreta no desenvolvimento dos atletas de formação e do desporto a nível nacional, e o aumento que poderá causar nas taxas de abandono de atletas.

No caso dos atletas seniores, e caso estas regras venham também a ser aí aplicadas, o problema agravar-se-á! São plantéis que participam em competições mais exigentes, que acarretam um nível de compromisso ainda maior para com o clube e para com o desporto praticado. Para atletas seniores, ver-se privados da competição é um fator extremamente desmotivante, pois todo o trabalho, todo o treino, todo o esforço que empregam é destinado à competição, e os jogos, os campeonatos, as vitórias, são o maior fator de motivação de qualquer atleta. Como é que é suposto um treinador conseguir motivar os seus atletas, quando não há condições para entrar numa competição? Como se motivam atletas quando estes sentem que o próprio governo os está a "sabotar"?

O desporto é para todos, profissionais ou amadores, a nível nacional ou distrital, para crianças e adultos, homens e mulheres, ricos ou pobres. Não nos limitem, não nos cortem ainda mais as pernas! Vá lá, vocês conseguem fazer melhor!


Margarida 🦁

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